[:pt]A vida secreta das crianças [:]

[:pt]  As redes sociais são mais do que uma forma alternativa de comunicação das crianças, são um espaço novo para expressão de suas identidades, diz pesquisadora.   “Moça, você tem Instagram? E Snapchat?”, pergunta uma garota. “Isso, moça, posso ver seu Snapchat?”   Um grupo de crianças de 13 anos, todas alunas do nono ano na Lilian Baylis School, em Londres, se aproxima zunindo em direção a meu iPhone, como um enxame de abelhas que vai a um pote de mel esquecido aberto por alguns instantes. Antes que eu possa reagir, elas já o têm em suas mãos e meu Snapchat está aberto.   “Você tem poucos contatos. Você tem nove ‘Me Adicionou’. Você conhece essas pessoas?”   “A moça nem pediu para adicioná-los.”   “Mostra pra mim! Mostra pra mim!”   “Se você não os conhece, não adicione. Só se forem amigos de seus amigos. Aí, tudo bem. Mas nunca alguém ao acaso”, aconselha em tom solene Kushana, uma das garotas.   “Você fez um ‘print de tela’ de um Snap. Você sabe fazer ‘prints de tela’ de Snaps?”, pergunta Oumar, outro aluno, olhando-me com ligeiro desdém. “Sua pontuação Snap é 500. Isso é bom. Olha, você pode falar com um monte de pessoas.”   Quando me devolvem o telefone, descubro fotos Snaps que eles tiraram uns dos outros, com filtros e lentes especiais: em um deles, vejo uma Kushana com um ar estranhamente angelical e sua amiga Jada-Renee usando coroas de flores cor-de-rosa em cima de suas tranças. Em outro, Kylie posa com cara de brava e flores florescentes flutuando em cima de sua cabeça.   “Estamos ‘Snapchatting’ em nossos uniformes, mas você não vai postar, não é, moça?”, pergunta Kylie, receosa. Não se trata de uma regra da escola, mas as crianças sabem que seus uniformes podem ser facilmente identificados por estranhos na internet. Então, depois de me dar uma avaliada, Kylie muda de ideia instantaneamente: “Mas você pode, sim, se quiser. Vai desaparecer depois de 24 horas, então não esqueça de salvar em suas ‘memórias’”.   Prestativamente, ela pega meu telefone e me mostra como fazer. Embora os próprios meninos de 13 anos estejam me instruindo sobre os perigos do Snapchat, os adultos estão cada vez mais preocupados com a forma como as telas vêm moldando os cérebros dos jovens. Fomos todos convertidos à ideia de que crescer em uma era digitalmente conectada é completamente diferente da infância vivida pelas gerações anteriores, uma mudança provocada inteiramente pela internet.   Pesquisadores estão empenhados em analisar cada aspecto dos efeitos da internet nos comportamentos sociais, na saúde mental e até no desenvolvimento fisiológico das crianças. Há estudos sobre novos tipos de atitudes de intimidação, desde a “trollagem” até os “pornôs de vingança”, e sobre a ascensão de criminosos e pedófilos conhecedores das artimanhas da internet. Por todos os cantos, é possível ver adultos falando loquazmente sobre suas ansiedades em relação à geração dos smartphones.   Mas e quanto às próprias crianças? São elas os verdadeiros habitantes do mundo virtual – os superusuários de novos aplicativos, os peritos em entretenimento on-line e, também, os críticos mais exigentes, quando essas tecnologias não ficam à altura de seus padrões. Ainda assim, suas vozes ficam frequentemente abafadas pela onda paternal de preocupações. Uma delas é que as crianças vêm se tornando cada vez mais isoladas – passam mais e mais tempo olhando para telas em seus quartos em vez de interagindo cara a cara. Voltando à escola Lilian Baylis, tento entender o que significa amizade em uma era em que maioria das crianças tem centenas de “amigos” e seguidores on-line em vários canais.   Kylie, descendente de equatorianos, mora em Brixton com sua irmã e os pais. Sua melhor amiga é Cheydna, uma angolana-portuguesa que mora com a mãe e a irmã mais velha a poucos minutos da escola.   “O que quer dizer ser a ‘melhor amiga’?”, pergunto às garotas. “Basicamente, significa que falamos pelo FaceTime todo dia depois da escola. Não gosto que as pessoas me vejam fora do colégio, porque minha aparência com o uniforme da escola é diferente da que tenho com minhas próprias roupas. Eu pareço mais velha. Então, falo apenas com ela pelo FaceTime”, diz Kylie.   “Ela guarda todos meus segredos e falamos entre nós em espanhol e português, que ninguém mais pode entender, então é bem legal”, acrescenta Cheydna.   “Nós duas queremos ser advogadas criminalistas. Falamos pelo FaceTime e nos dedicamos a estudar. Fazemos nossa lição de casa juntas”, afirma Kylie.   “Eu e meu telefone somos nossas melhores amigas. Sou mais próxima de meu telefone do que de minha família”, afirma Kushana, de 13 anos   Como seria a vida dos alunos sem seus telefones? “Eu e meu telefone somos nossas melhores amigas. Sou mais próxima de meu telefone do que de minha família. É a primeira coisa que vejo de manhã e a última que vejo de noite”, diz Kushana.   “Para ser sincera, eu me isolo quando estou em casa. Estou sempre ao telefone quando estou [lá]. Não é porque estou [sempre] falando com alguém, simplesmente é porque não me sinto bem sem ele”, diz Kylie, elevando a voz. “Fico no sofá com o telefone e meus fones de ouvido. Não me importo em falar com pessoas reais enquanto tiver meu telefone perto de mim.”   A psicóloga Sonia Livingstone passou um ano observando as vidas de 30 crianças entre 13 e 14 anos, em Londres, para seu livro “The Class” (a classe). Uma das descobertas que a surpreendeu foi que as redes sociais eram mais do que uma forma alternativa de comunicação – eram um espaço inteiramente novo para os jovens expressarem suas identidades.   “A internet permite flexibilidade e experimentação. Se você for uma criança somali ou que adora xadrez ou que tiver fluidez de gênero, você pode encontrar outros como você, mesmo se passar a maior parte do tempo em um raio de 10 km da escola ou de casa”, diz Sonia, professora na London School

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