Recentemente, participamos como conferencista, do I Colóquio Internacional de Brincadeiras Perigosas, em Fortaleza (CE). O evento mostrou uma nova preocupação de pais, professores e profissionais de saúde: as brincadeiras perigosas que jovens e adolescentes estão realizando no Brasil e em países como África do Sul, França e Estados Unidos. São diversos tipos de atitudes que visam reduzir a oxigenação cerebral e, consequentemente, uma sensação de euforia, tontura, parada respiratória, desmaio, podendo chegar até a morte. Várias práticas perigosas sempre existiram, porém, com a fácil e instantânea divulgação nas redes sociais e internet, estão se tornando um grande problema para as famílias, escolas, saúde pública e até para a área policial. O PERIGOSO JOGO DO DESMAIO Inicialmente, alertamos para os “Jogos dos Desmaios”, vistos como brincadeiras entre crianças e adolescentes, que consistem em cortar a passagem de ar para o cérebro, provocando o desmaio. O objetivo da prática seria a busca de uma sensação de euforia ou alucinação. A busca é típica da adolescência: experimentar, desafiar e pertencer a grupos e práticas em busca de recompensa subjetiva. A prática, disseminada como inofensiva, torna-se um fator de curiosidade entre grupos, principalmente nas escolas. A experimentação ocorre em sua maioria pela pressão de amigos e sem consciência das possíveis sequelas da prática e do risco de morte. A INALAÇÃO DE DESODORANTE SPRAY ANTITRANSPIRANTE Outra forma de desafio proposta a jovens via internet e/ou entre amigos e grupos, pode ter sido causadora de óbitos em Fortaleza e em outras capitais: a prática da inalação do desodorante em spray. Algumas mortes de jovens ocorridas na capital cearense foram consideradas, equivocadamente, pela polícia, como simples suicídio por asfixia mecânica. Eram jovens sem nenhuma história de depressão, com a vida familiar regular, alguns até, universitários ou recentemente aprovados no vestibular, alegres e demonstrando toda a felicidade, naquele momento das suas vidas. Ao lado dos corpos de alguns jovens, foram encontrados frascos de desodorantes, não valorizados pela polícia técnica, segundo depoimentos de familiares. Alguns colegas dos jovens que foram a óbito, revelaram uma prática que não consideravam arriscada: tinham uma competição de inalar desodorante spray, para ver quem suportava mais. Alguns pais dos jovens descobriram, posteriormente, a presença de vários frascos de desodorantes em spray, guardados no quarto dos filhos. No corpo de alguns jovens, foram encontradas lesões escuras semelhantes a queimaduras, resultantes da aplicação do desodorante na pele antes da inalação (como um ritual de utilização do desodorante). Tais lesões também não foram valorizadas pela polícia técnica, segundo informações de familiares. Em Belém, uma pesquisa realizada por um jornal local mostrou que de sete adolescentes, entre 16 e 17 anos, entrevistados, cinco assumiram que já inalaram, ao menos uma vez, desodorante spray. Alguns jovens revelam que a aspiração, em pano embebido ou saco plástico, causa efeitos comparáveis ao consumo de inalantes como o lança-perfume. Eles não aparentam ser usuários de drogas, não são pobres, nem enfrentam os riscos de morar na rua. Pelo contrário. São alunos de uma escola do centro da cidade que, basicamente, atende ao público pertencente à classe média alta. A prática, segundo os entrevistados, é comum entre alunos de vários colégios considerados “de elite” da capital. POR QUE A INALAÇÃO DO DESODORANTE SPRAY PODE MATAR? A composição química básica do desodorante em spray é: álcool, alumínio, gases como isobutano, butano e propano, entre outras substancias. O alumínio é responsável por conter o suor bloqueando as glândulas sudoríparas. Existe uma polêmica com relação à provável ligação entre o alumínio e câncer de mama. Em algumas pessoas, o alumínio é responsável por reações alérgicas. .A presença do álcool nos desodorantes, quando inalados repetidas vezes, pode contribuir para a dependência (lembrando que o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso). Os gases do desodorante são utilizados como propulsores de aerossóis e, em excesso se acumulam no organismo, tomando o lugar do oxigênio, podendo provocar asfixia e morte. Portanto, a inalação do desodorante spray pode levar a depressão respiratória, arritmia cardíaca, redução da oxigenação cerebral, asfixia e morte. O PROBLEMA É MUNDIAL Casos mundiais de óbitos por inalação dos desodorantes sprays foram divulgados na mídia internacional. Um menino de 12 anos, Daniel Hurley, morreu após usar quantidade excessiva de desodorante. O pai encontrou o menino desmaiado no banheiro da casa da família, na cidade inglesa de Derby. Ele ainda tentou reanimar o menino, mas ele morreu nos hospital cinco dias depois, em função de uma arritmia cardíaca. O jovem Jonathan Capewell tinha apenas 16 anos quando teve um ataque cardíaco no quarto, em Oldham, Manchester: “Quando chegamos ao hospital, eles ainda tentaram reanimá-lo”, lembra o pai Keith, 58. “Mas, 10 minutos depois ele tinha falecido”. Um exame em seu corpo mostrou que ele tinha 10 vezes a quantidade letal de butano e propano em seu sangue. OS RÓTULOS DOS DESODORANTES SÃO QUASE INVISÍVEIS Poucas pessoas, normalmente, observam rótulos de produtos. Ainda mais que os rótulos dos desodorantes são quase invisíveis. As principais recomendações são: Evitar inalações, evitar aplicações prolongadas, proteja os olhos durante a aplicação, não usar se a pele estiver irritada ou lesionada, não usar em ambientes fechados. A maioria das pessoas usa no banheiro com a porta fechada. Os jovens e adolescentes que foram a óbito devido à inalação de desodorante, usaram em banheiro ou no quarto fechado para os pais não descobrirem a prática tão arriscada. ALERTA PARA TODOS Escrevemos o artigo acima, pois não detectamos ações em escolas do nosso país, exceto o que foi realizado por nós aqui em Sergipe, abordando o tema “Brincadeiras Perigosas”. Pretendemos levar o tema para o Sindicato das Escolas Particulares e para o Programa de Saúde Escolar (escolas públicas). Os pais precisam acompanhar mais os filhos, ficando atento às mudanças súbitas de comportamento, bem como as alterações físicas do jovem ou adolescente. Os professores e coordenadores das escolas também precisam estar atentos às brincadeiras nos intervalos e o que está circulando nas redes sociais que envolvem os alunos. A internet e redes sociais, sem recursos de acompanhamento de pais