[:pt]’Brincadeiras perigosas’ ameaçam crianças e jovens[:]

[:pt]

Jogos de não oxigenação do cérebro normalmente divulgados pela internet já fazem vítimas no Brasil. Pesquisa revela que 49% dos entrevistados já participaram da prática pelo menos uma vez na vida

 

Uma prática divulgada como “inofensiva” em canais do YouTube e redes sociais pode levar adolescentes à morte. Chamadas de “brincadeiras perigosas” ou “jogos do desmaio”, entre outros nomes presentes em milhares de vídeos disponíveis na internet, os “desafios” que provocam a não oxigenação do cérebro por sufocamento ou inalação de substâncias químicas fáceis de encontrar na casa de qualquer família começam a chamar a atenção de pais e educadores.

 

Há cerca de dez dias, um rapaz de 21 anos foi encontrado morto em Apucarana supostamente após inalar gás butano, um dos produtos usados nas “brincadeiras”. Conforme o delegado-chefe da Polícia Civil no município, José Aparecido Jacovós, ele foi encontrado morto ao lado de um tubo do produto. “Concluímos que foi por inalação, mas ainda estamos fazendo exames”, disse. Recentemente, a morte de uma estudante de 18 anos, no interior paulista, após inalar gás de buzina, reacendeu a preocupação em relação aos desafios.

 

Enganam-se os que pensam que os jogos são praticados apenas por adolescentes “problemáticos” ou com tendências suicidas. Pesquisa que está sendo conduzida por Juliana Guilheri, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ouviu mais de 1,3 mil crianças e adolescentes brasileiros e constatou que, entre os entrevistados, 49% já tinha praticado algum jogo de não oxigenação pelo menos uma vez na vida. A informação foi divulgada pela psicóloga Fabiana Vasconcelos, membro do comitê de educação do Instituto Dimi Cuida, de Fortaleza (CE), criado pela família de um adolescente de 16 anos que morreu após praticar um destes jogos.

 

Segundo ela, a pesquisadora também identificou que a prática trazia uma certa euforia interna associada ao prazer em algumas crianças. “Na verdade, são células neuronais morrendo”, esclarece, destacando que isto explica, em parte, o fato de praticantes voltarem a repetir os jogos. A maioria deles são meninos e, segundo a psicóloga, 30% aderem aos jogos por pressão dos pares. “Outra parcela é motivada pelo risco, pela adrenalina”, esclarece.

 
 

IMAGINÁRIO

A única certeza é que, graças à internet, os jogos infelizmente já fazem parte do imaginário das crianças e adolescentes brasileiros. “Fazemos palestras sobre o assunto e sempre há relatos de pessoas que, após tomarem conhecimento da prática, despertam para a possibilidade de que conhecidos podem ter realizado o jogo e, inclusive, morrido por esta causa.”
 
Outro ponto destacado é que os adolescentes atuais não se espelham mais em modelos adultos, mas em jovens da mesma idade, principalmente aqueles que se transformam em celebridades na internet. “São pessoas que ditam comportamentos e acabam incentivando a prática dos jogos”, lamenta.

 

Fabiana acrescenta que os adolescentes estão praticando as brincadeiras de não oxigenação sem calcular os riscos, que podem ser desde sequelas como perda da visão e capacidade de cognição até a morte. “O problema é que os pais nem sabem da existência destes desafios. Eles alertam sobre drogas, ensinam sobre sexo e até sobre a própria internet, mas não imaginam que os jogos existam”, diz.
Por isso, é sempre um choque quando a possibilidade de um adolescente ter morrido por causa das brincadeiras de não oxigenação aparece, como ocorreu com as nove famílias atendidas atualmente pelo Instituto Dimi Cuida. “Todos os casos foram registrados a partir de 2014”, relata.

 

A própria família do adolescente que deu nome à instituição só levantou a possibilidade porque não enxergava no filho o perfil de um suicida. “Ele tinha uma família equilibrada e uma vida ativa. Era muito curioso e provavelmente conheceu o jogo na internet”, lamenta Fabiana. Após descobrirem que o filho morreu em função das brincadeiras, os pais de Dimi resolveram iniciar a campanha e criaram o instituto, com apoio de instituições semelhantes na França e nos Estados Unidos.
 
Em caso de suspeita sobre as brincadeiras, Fabiana orienta que a família não deve tentar resolver sem ajuda. No site do instituto (www.dimicuida.org.br), há muitas informações sobre o assunto. A prevenção, segundo ela, deve ser baseada principalmente no alerta sobre as sequelas que as brincadeiras podem provocar. “O cérebro do adolescente está em formação e pode ser muito prejudicado pela falta de oxigenação”, diz. Outro cuidado, segundo a psicóloga, é não “dar ideia” sobre a prática ao abordar os filhos.

 
 
 

Reportagem feita pela Folha de Londrina
Carolina Avansini

[:]

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Av. Santos Dumont, 1388
Aldeota - Fortaleza/CE
CEP: 60150-160

Siga nossas redes sociais

Rolar para cima
×