[:pt]Estratégias para adolescentes que enfrentam uma nova (temporária) realidade
O isolamento social que se tornou tão importante para controlar o surto de coronavírus está exigindo uma atenção com questões relacionadas à saúde mental de adolescentes. Com o fechamento das escolas e eventos cancelados, adolescentes perdem a oportunidade de participar de encontros presenciais, conversar com amigos, praticar esportes coletivos, assistir às aulas, entre outras atividades fundamentais para o seu desenvolvimento e bem-estar.
Se você é adolescente e está sentindo ansiedade, isolamento, decepção por causa das mudanças trazidas pela pandemia do coronavírus, saiba o seguinte: você não está só. Conversamos com a especialista brasileira Karen Scavacini, psicóloga fundadora do Instituto Vita Alere, que nos traz reflexões e sugestões sobre como atravessar este momento protegendo você mesmo(a) e ajudando a proteger os outros.
Também aproveitamos uma conversa da equipe do UNICEF em Nova Iorque com Lisa Damour, psicóloga especialista em adolescentes, autora de best-sellers e colunista mensal do New York Times, sobre o que você pode fazer para praticar o autocuidado e cuidar de sua saúde mental.
1. Reconheça que ter ansiedade é normal
Se o fechamento da escola e as manchetes alarmantes fazem você sentir ansiedade, você não é a única pessoa a passar por isso. Isso é comum. A psicóloga Karen Scavacini lembra que “se a ansiedade estiver trazendo uma preocupação exagerada, impedindo você de fazer atividades ou dormir, vale pensar o que está contribuindo para tudo isso, como ficar vendo informações e notícias o tempo inteiro, excesso do uso da tecnologia ou se sentir incapaz perante a pandemia”. Às vezes, a ansiedade pode aparecer de jeitos diferentes, como trazer frustração, cansaço, raiva, excessos na alimentação ou falta de vontade de cuidar da gente mesmo. “Um pouco de preocupação e nervosismo são completamente normais, assim como sentir falta dos amigos, do/a namorado/a, da rotina e até da escola”. Para escapar desse clima que vai tomando conta de você, pense que essa é uma forma de proteção que cada um tem e que você vai conseguir passar por isso, pois é sua capacidade de ficar em casa que vai proteger você, as pessoas com quem convive e até vai contribuir para toda a sociedade controlar a pandemia do coronavírus.
Embora a ansiedade em torno da Covid-19 seja totalmente compreensível, verifique se você está usando “fontes confiáveis [como os sites do UNICEF e da Organização Mundial da Saúde] para obter dicas ou verificar qualquer informação que possa estar recebendo por canais menos confiáveis”, recomenda a psicóloga Lisa Damour.
Se você está preocupado(a) com os sintomas, é importante falar com sua família sobre isso. “Lembre-se de que as doenças causadas pela infecção do coronavírus geralmente são leves, especialmente para crianças e adultos jovens”, diz Damour. Também é importante lembrar que muitos dos sintomas da Covid-19 podem ser tratados. Ela recomenda que você conte a seus pais ou uma pessoa adulta de confiança se você não estiver se sentindo bem ou se estiver preocupado(a) com o vírus, para que possam ajudá-lo(a).
E lembre-se: “Há muitas coisas eficazes que podemos fazer para nos manter e manter as outras pessoas seguras e para ter um melhor controle de nossa situação: lavar as mãos com frequência, não tocar o rosto e nos distanciar socialmente”.
2. Tenha uma rotina
Em tempos de isolamento social, uma boa dica é aprender o que fazer com o seu tempo e o seu humor, em alguns dias você estará mais tranquilo(a) e com vontade de fazer coisas e em outros dias, não. Respeite isso, mas não paralise. “Tente organizar a sua rotina. Fazer planejamentos diários e semanais e manter o estudo em dia são formas saudáveis de criar distrações, exercitar o corpo e a mente e fazer as tarefas que precisa”, sugere Scavacini.
Outra forma de preencher de forma saudável o tempo é incluir na sua rotina algum tipo de exercício físico, que, além de ajudar o seu corpo, vai gerar bem-estar para sua mente. E lembre-se, ao acordar, tire o pijama, coloque uma roupa confortável, se arrume, tome banho, coma, abra as janelas e se prepare para mais um dia. “Colabore com a arrumação do seu local de estudo e da sua casa e com o seu autocuidado”, recomenda Scavacini.
3. Crie distrações, seja criativo.
“O que os psicólogos sabem é que, quando estamos em condições cronicamente difíceis, é muito útil dividir o problema em duas categorias: coisas sobre as quais posso fazer algo e coisas sobre as quais não posso fazer nada”, diz Damour.
Há muita coisa que se enquadra nessa segunda categoria no momento, e tudo bem, mas uma coisa que nos ajuda a lidar com isso é criar distrações para nós mesmos. Lisa Damour sugere fazer um trabalho da escola, assistir a um filme ou ler um romance como formas de buscar alívio e encontrar equilíbrio no dia a dia.
4. Encontre novas maneiras de se conectar com seus amigos
Se você deseja passar um tempo com amigas e amigos enquanto pratica o distanciamento social, a mídia social é uma ótima maneira de se conectar. Seja criativo(a): participe de um desafio do Tik-Tok como o #safehands. “Nunca subestimei a criatividade dos adolescentes”, diz Damour, “meu palpite é que encontrarão maneiras de se conectar uns com os outros online que serão diferentes das que faziam antes”.
“[Mas] não será uma boa ideia ter acesso irrestrito a tevês, jogos eletrônicos e mídias sociais. Isso não é saudável, não é inteligente, pode aumentar sua ansiedade”, diz Damour, recomendando que você estabeleça um horário para isso, negociando com as pessoas responsáveis por você em casa.
Manter a interação e a sociabilidade de forma remota, ajuda a nos conectar e manter os laços de antes, mas de um jeito diferente. “Além de seus amigos atuais, que tal pensar em pessoas que faz tempo que você pensa em falar, mas que nunca tem tempo? Pode ser a hora de retomar antigos laços de amizade e familiares”, diz Scavacini.
Veja com os seus amigos quais são as melhores formas de se falarem e estarem juntos e criem jeitos novos e diferentes de conversar. Se alguém do grupo estiver mais quieto(a), aproveite e ofereça apoio e um bom ouvido se a pessoa precisar desabafar. Checar a saúde mental de tempos em tempos pode ajudar a dar o apoio para o(a) amigo(a) que mais precisa naquele momento.
Esteja #emcasaeconectado
5. Use a tecnologia a seu favor
Em contextos de isolamento social, seja ativo no uso da tecnologia, como um produtor de conteúdos. “Passar o dia todo na internet, na televisão, ou nos dispositivos pessoais de forma despropositada, não é bom”. Não seja simplesmente um receptor de informação, dê sentido ao uso da tecnologia também, explore mídias que você não costumava usar, como gravar uma mensagem em vídeo para amigos e familiares que também estão em isolamento. Quem sabe aprender a editar? Existem muitos recursos na própria internet para ajudar você a usar a tecnologia a seu favor.
Usar de forma ativa, sabendo para que está usando.
Mas tudo isso sem esquecer da segurança na internet. Importante manter cuidado com os conteúdos trocados, com as informações pessoais que você compartilha, com os conteúdos que você acessa – proteja-se.
6. Concentre-se em você
Você estava querendo aprender como fazer algo novo, ler um novo livro ou passar algum tempo praticando um instrumento musical? Agora é a hora de fazer isso. Concentrar-se em si mesmo e encontrar maneiras de usar seu tempo recém-encontrado é uma maneira produtiva de cuidar de sua saúde mental. “Fiz uma lista de todos os livros que quero ler e do que pretendo fazer”, diz Damour.
Lembre-se das coisas que você sempre quis fazer e nunca teve tempo. Mas o desafio aqui é conseguir fazer isso sem sair de casa. Na hora em que o tédio bater, e ele vai chegar, pense em como pode transformá-lo em algo positivo e útil. Aproveite a quantidade de cursos disponíveis e, se der, aprenda algo novo, mas… não se obrigue a fazer nada disso nos dias que não estiver a fim. “Se perceber que seu humor mudou muito e há dias nada anima você ou lhe interessa, é hora de pedir ajuda”, ressalta Scavacini.
Outro ponto importante é, se você toma algum remédio, não parar de tomar sua medicação sem falar com o seu médico.
7. Vivencie seus sentimentos
Perder eventos, encontros e jogos presenciais é incrivelmente decepcionante. “São perdas em larga escala que podem perturbar adolescentes”, diz Damour. A melhor maneira de lidar com essa decepção? Permita-se senti-la. “Quando se trata de ter uma sensação dolorosa, uma das saídas é vivenciá-la. Se dê o direito de ficar triste”.
Cada um lida com seus sentimentos de uma forma. “Algumas pessoas vão fazer arte, outras vão querer conversar com amigas e amigos e incluir a tristeza como uma maneira de se sentir conectadas em um momento em que não podem ficar juntas pessoalmente, e algumas pessoas vão querer encontrar maneiras de levar alimentos para quem precisa”, diz Damour. O importante é que você faça o que parece certo para você.
Nesses momentos surgem novas formas de se conhecer e vivenciar as situações limite. O desenvolvimento da resiliência é algo que pode ser muito novo para os adolescentes. Nesse contexto, Scavacini aconselha: “Tenha paciência consigo e com os outros, todos nós estamos lidando com algo novo, que nunca vivemos e precisamos nos adaptar a isso. Pergunte-se, como você lida com os limites impostos pelo isolamento, com o medo, com os outros e com você mesmo? São formas de se conhecer e deixar fluir os sentimentos que estão em você”.
8. Seja gentil consigo mesmo e com os outros
Alguns adolescentes estão enfrentando bullying e provocações na escola devido ao coronavírus. “A ativação de uma rede de proteção é a melhor maneira de lidar com qualquer tipo de bullying”, diz Damour. “Não se deve esperar que crianças e adolescentes atingidos enfrentem os agressores; pelo contrário, devemos incentivá-los a procurar ajuda ou apoio de amigos ou adultos”.
Se você testemunhar um(a) amigo(a) sofrendo bullying, entre em contato com ele(a) e tente oferecer apoio. Não fazer nada pode deixar a pessoa sentindo que todos estão contra ela ou que ninguém se importa. Suas palavras podem fazer a diferença.
E lembre-se: agora, mais do que nunca, precisamos refletir sobre o que compartilhamos ou dizemos que pode prejudicar os outros.
Há formas possíveis para a participação e o engajamento dos adolescentes que envolve também a construção da autorresponsabilidade além da gentileza e da empatia. Karen Scavacini explica: “Isso significa ser responsável pelo que faz e poder fazer a diferença neste momento. Você pode ser um ator de transformação e ajuda. Pode escolher o que compartilhar com os amigos, como pode ajudar os que estão perto de você, de forma online (se conectando com pessoas, fazendo campanhas, e o que mais sua imaginação permitir) ou presencialmente (fazendo compras para pessoas do grupo de risco e pensando no que pode fazer para que a convivência familiar seja mais fácil), por exemplo”.
“Toda essa vivência ficará marcada em todos nós, pense no que pode fazer hoje e faça a sua parte”, convida Scavacini.
No Brasil, temos um contexto desafiador e muito diferente para os jovens, pense e reflita dentro da realidade em que você vive, o que pode e como pode passar por tudo isso da melhor forma possível. Não limite sua criatividade e peça ajuda, se precisar!